rmixme

terça-feira, julho 25, 2006

A Novela da Vida Real

Todos nós estamos fartos de saber através da comunicação social que devemos usar os transportes públicos em detrimento dos carros particulares. Mas também todos nós sabemos que quem tem carro não o faz, na sua maioria (zona da Grande Lisboa). Ora porque é mais cómodo, porque não há transportes à hora certa, porque sabem o caminho mais rápido, etc. Várias são as desculpas e muitas delas com razão.
Não venho defender o uso de transportes públicos até porque não os acho ainda adaptados à realidade portuguesa. Dou como exemplo os autocarros antigos dos anos 80 vindos da Alemanha que foram agora reciclados. Estes têm vidros fechados, sem janelas e sem ar condicionado. Andar num autocarro destes em pleno Verão é um atentado à saúde pública. Já que os reciclaram podiam colocar vidros com janelas mas Portugal é também um país muito frio como a Alemanha, não é?

Contudo, destaco uma das vantagens de andar em transportes públicos. O poder andar livremente, a olhar para o mais variado tipo de pessoas e conhecer os seus hábitos. É verdade! Há pessoas que vejo todos os dias no autocarro ou comboio. É engraçado ver que quando perdemos um autocarro, essas pessoas também o perdem igualmente. Ou quando saímos mais tarde o mesmo acontece a elas. Chegamos já a conhecer as suas roupas, o tipo de conversas que têm. A educação que têm ou não. Podemos ver pessoas bonitas e apreciá-las. Ver pessoas tristes e com um ar tão simpático que só dá vontade de ir abraçá-las e perguntar no que podemos ajudar. Achar piada às birras matinais de dois irmãos, de idades entre os 2 e os 5 anos, em que todos os dias ambos querem ficar do lado da janela e tudo fazem para o conseguir, cabendo à mãe (que sabe dar educação) acalmá-los. Ver climas de romance e de discussão. Ver maridos a comportarem-se de maneira diferente quando estão longe das mulheres e perto dos amigos. Apanhar sol ou chuva. Ler durante a viagem.

Podem achar que sou cusco. Mas não. Tudo isto se passa nos transportes públicos. Às vezes, até acho que estou a ver uma novela que tem as mesmas personagens todos os dias, aparecendo sempre uma outra novidade pelo meio. Contudo, trata-se apenas da verdadeira vida real a que tenho acesso todos os dias. E se querem saber, gosto disso.